DECLARAÇÃO SOBRE A ENTREVISTA DE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS À CADEIA TELEVISIVA PORTUGUESA SIC
1. Mais uma vez, o Presidente da República não surpreendeu a opinião pública ao escolher um canal estrangeiro para conceder uma entrevista conivente, depois de várias décadas de mutismo. Fê-lo para branquear os actos do Executivo e tentar melhorar a sua imagem perante a opinião pública nacional e internacional. No entanto, a montanha pariu um rato apesar de se perceber que não se tratou de uma entrevista mas de uma montagem mediática, em que o jornalista não se coibiu de patentear a sua conivência com o entrevistado, o que pressupõe que houve toda uma preparação dessa campanha de imagem.
JES não passou de lugares-comuns sobre a pauta temática escolhida, em que se incluía as “realizações do país”, a reconciliação nacional, as relações externas, desenvolvimento, pobreza, corrupção, estabilidade social, a sucessão presidencial, desminagem, ideologia do poder.
2. Ao debruçar-se sobre a reconciliação nacional, JES manteve-se nos parâmetros da paz militar. Na verdade, desvalorizou a permanente tensão a que estão sujeitas as forças da oposição, com intensa intolerância, incluindo assassinatos políticos não investigados, a manipulação das forças da sociedade civil, a limitação das liberdades de expressão, a ausência de pluralismo, situações que retratam a condição de Partido-Estado a que o país está sujeito. Por isto, é já visível a instabilidade social que pode pôr em causa os escassos ganhos duma Paz que não radica o seu fundamento na realização do bem comum. De resto não é a Juventude que cria a instabilidade, mas é sim a sua vítima.
3. Ao destacar o capital humano como a principal realização do país, JES entrou de seguida em contradição, uma vez que reconheceu imediatamente que o país tem uma grande carência de quadros, daí estar a importar muitos quadros provenientes dos países cooperantes. Angola não tem tido competências para preencher as necessidades suscitadas por um crescimento económico na base do betão para “inglês ver”.
4. Ficou claro que as relações externas de Angola são aquelas que permitem consolidar os interesses da elite reinante, quer na área da sua segurança, quer no domínio da especulação imobiliária, quer na utilização de agentes que “compreendem” a psicologia dos angolanos para melhor os explorar.
Por outro lado, JES encobriu o facto do capital angolano investido no exterior não ser apenas de empresas públicas, mas a repassagem do capital destas para os privados, permitindo uma fuga extraordinária de capitais que são reciclados e deixam vazios os cofres do estado. Tal pretensão de investimento externo não consegue esconder as relações de natureza neocolonial, inclusive com a exploração de trabalho infantil (China).
5. Contrariamente ao que JES afirmou, Angola não tem qualquer Desenvolvimento. O mero crescimento económico que se observa no país não tem tido o devido reflexo na sociedade, pois acentua-se de facto o fosso entre ricos e pobres, persistem os indicadores de mortalidade infantil e materna, perdura o analfabetismo técnico e funcional na sociedade, reincidem doenças desaparecidas de um tempo a esta parte do país, grassa a fome e o desemprego, o país não tem organização, nem funcionalidade.
Mesmo do estricto ponto de vista económico, Angola está refém da monoprodução petrolífera, contra a diversificação desejada, grassa o desperdício em obras públicas sem qualificação, não existe uma cadeia de sustentabilidade produtiva. De resto, o país não tem segurança alimentar, nem um sistema nacional de saúde, nem sequer consegue fornecer água e energia de forma regular aos cidadãos.
6. JES manifestou incoerência no discurso em relação ao dito combate à pobreza e à corrupção, uma vez que afirma que não sabe se algum dia vamos ultrapassar este fenómeno, pois segundo ele a corrupção existe em todos os países. Depois fala de programas de combate à corrupção e, na dificuldade de os citar, fica-se por lugares-comuns sobre a melhoria das remunerações dos servidores públicos (numa evidente ofensa a esses cidadãos que têm visto os seu salário real a degradar-se de ano para ano, pois, perante o aumento do custo de vida, os aumentos salariais têm sempre ficado abaixo da inflação).
Fala também do reforço do Tribunal de Contas, quando toda agente sabe que este é mais conhecido por Tribunal de Faz de Conta, refere ainda a repressão aos desvios de fundos, quando todos os cidadãos conhecem a impunidade total do seu círculo próximo, médio e distante que são os maiores corruptos do país; Finalmente quanto as campanhas de educação para os cidadãos que refere, em tempo algum, ninguém ouviu falar.
7. No que tange ao combate à pobreza, reconhecendo embora que os seus índices são elevados, teimou na afirmação contraproducente de que esta “ é um fenómeno que não é só de Angola”, e de que “o subdesenvolvimento vem do tempo colonial”.
8. Sobre um tema que poderia ter sido interessante que é o da sua sucessão, não disse nada de útil. Na verdade afirmou que a questão tem sido discutida no interior do seu partido e que se resolve com uma primeira manobra (as palavras são suas) que é a sucessão do presidente do seu partido, mas acrescentou que nunca pensou no que vai fazer depois de sair de presidente. O que quer dizer, para bom entendedor, que nunca colocou a hipótese de vir a ser substituído no poder.
O Bloco Democrático não embarca assim em demagogias discursivas falaciosas e exige que é hora de retomar o caminho da verdadeira democracia, onde o bem-estar terá necessariamente lugar.
Luanda, 6 de Junho de 2013
O BLOCO DEMOCRÁTICO
Mudar o Futuro pela “Liberdade, Modernidade e Cidadania”
O Presidente
Justino Pinto de Vicente Pinto de Andrade