27 de Agosto de 2012, 10:29
Luanda, 27 ago (Lusa) - O sociólogo angolano Nelson Pestana, que prevê para os próximos anos "um quadro social muito grave" para Angola e considera que o 'slogan' da campanha do partido no poder, MPLA, devia ser "distribuir melhor para crescer mais".
O partido no poder desde a independência de Angola, em 1975, escolheu como palavra de ordem para as eleições gerais do próximo dia 31 "Angola a crescer mais e a distribuir melhor".
Em entrevista à agência Lusa, Nelson Pestana, dirigente do partido Bloco Democrático, que ficou de fora na corrida a estas eleições por incapacidade em preencher os requisitos legalmente exigidos, disse que o chavão escolhido é "fortemente inspirado pela circunstância das eleições e não leva em conta a realidade nacional".
"É verdade que todos nós queremos que a distribuição seja melhor feita, então a palavra de ordem deveria ser distribuir melhor para crescer mais", referiu, chamando a atenção para o facto de não lhe parecer ser essa a ideia daquele partido.
"Ou seja, a riqueza produzida durante estes dez anos, em particular, já está alocada, cada um tem o seu dinheiro e não se mexe. Então vamos é ter que crescer mais, criar mais riqueza para distribuir essa riqueza a ser criada", asseverou.
Docente da Universidade Católica de Angola, Nelson Pestana refuta a promessa, justificando com a atual conjuntura do país, que considera "completamente desfavorável ao 'crescer mais'".
"As potencialidades de crescimento do nosso país estão estacionárias há cerca de três anos e vão continuar a ser. Ora, se só se vai distribuir melhor aquilo que for possível crescer nos próximos anos, quer dizer que vamos permanecer no modelo em que estamos ainda por mais alguns anos", salientou.
O modelo a que se refere são "os níveis e os índices sociais baixos", que provocarão "muitas crises, porque os problemas vão se avolumar".
Nelson Pestana considera que "houve um erro grave de governação que foi não se ter diversificado a economia e de não se ter investido as poupanças da alta de petróleo no tecido produtivo, nomeadamente na agricultura, nas famílias do meio rural".
Entre 2005 e 2012, Angola teve um dos maiores crescimentos económicos mundiais, com uma média de 12%, mas as projeções de organizações internacionais apontam nos próximos anos uma descida para um dígito, nomeadamente o Fundo Monetário Internacional, que prevê somente 5 por cento para 2013.
"Quando nós comparamos os índices de desenvolvimento - normalmente o Governo fala dos índices de desenvolvimento agregados, quer dizer o país todo -, mas quando nós desagregamos o meio urbano e o meio rural vemos qual é a discrepância que há entre um e outro", enunciou.
O sociólogo e investigador-coordenador do Núcleo de Estudos sobre a Pobreza no Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica, argumenta que a resolução dos problemas da falta de água e de luz elétrica são "cruciais" ao desenvolvimento de Angola.
"São estes problemas que agravam a situação social e no futuro nós vamos ter muito mais dificuldades, porque os problemas são os mesmos e os recursos são menores. Se o petróleo descer abaixo de 80 de dólares, há promessas de petróleo que deixam de existir, porque passam a ser muito caras", concluiu.
Angola realiza eleições gerais a 31 de agosto, que vão definir a composição do parlamento e os nomes do Presidente e vice-Presidente da República, nomeados a partir do número um e número dois da lista do partido mais votado.
NME.
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