O Bloco Democrático (BD) não pode deixar de expressar o seu ponto de vista sobre os gastos exorbitantes incorridos na realização do Campeonato Mundial de Hóquei no nosso país e a pouca atenção que tem sido dada às vítimas da fome, da mal nutrição infantil grave e do estado de miséria em que se encontra uma percentagem significativa das populações da região sul e que se está já a arrastar para o centro do país.
O nosso país está, neste momento, a atravessar um período de grande flagelo devido a um fenómeno sobejamente conhecido, as “secas cíclicas” que acontecem, de tempos em tempos, no sul.
As secas são comportamentos adversos da natureza, todavia, com vontade política, com capacidade governativa e com sentido de Estado, é possível, pelo menos, preparar as condições que permitam minorar o seu impacto devastador na vida das comunidades. Mas, não é isso o que temos assistido. Temos, sim, assistido a recorrentes medidas de improviso que, de modo algum, conseguem dar um mínimo de conforto àqueles que têm sido as suas vítimas. Muitas vezes, tais medidas são mesmo tomadas com um claro cariz propagandístico em favor do partido no poder que envia para os locais sinistrados meros activistas travestidos de socorristas…
O BD lamenta mas não estranha esse comportamento que se transformou numa prática reiterada do partido no poder e do seu governo, que não fazem um mínimo esforço por demarcar uma salutar linha de separação entre aquilo que deve ser responsabilidade do governo e aquilo que são os interesses particulares do partido governante. Ao tomarem, sistematicamente, tais atitudes demonstram, sim, um profundo desrespeito pelos que sofrem, e um grande desprezo pelo seu sofrimento.
O BD não se opõe a realização de eventos desportivos no nosso país, já porque a prática desportiva é salutar e é parte integrante da vida social. Só que estranha que haja capacidade de previsão e recursos para se efectuarem alguns eventos desportivos de que efeito mediático e não os haja para ajudar a minorar o estado de miséria em que se encontra grande parte do povo angolano.
Queremos, por exemplo, recordar o verdadeiro fiasco em que se traduziu a realização do CAN no nosso país, em 2010. Dele, para além da construção das infra-estruturas desportivas, pouco mais resultou, uma vez que quase nenhum impacto positivo teve no nosso desenvolvimento económico-social, nem na vida do povo angolano.
Estando agora em vésperas da realização de mais um evento desportivo internacional (campeonato mundial de hóquei), em que se estão a despender avultadas somas monetárias para a construção de infra-estruturas, julgamos ser justo alertar para a eventualidade de ele se vir a traduzir num novo esbanjamento de dinheiro público – precisamente quando uma boa parte da nossa população está a conhecer um momento de tão grande sofrimento e dor.
Por tudo isso, compreendemos a vontade expressa por parte de muitos cidadãos de manifestarem publicamente a sua indignação e o seu repúdio, face à flagrante contradição entre o esbanjamento de dinheiro público num acto que terá praticamente sentido propagandístico e a pouca atenção que está a ser dada ao alastrar da miséria entre as populações do sul do país, vítimas impiedosas de um fenómeno da natureza que, por se repetir ciclicamente, deveria ter concitado a melhor atenção e capacidade de previsão daqueles que nos governam.
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