DISCURSO DE
ENCERRAMENTO (Justino Pinto de Andrade)
23 DE OUTUBRO DE
2011
LOCAL: CEFOCA
Minhas
Senhoras e meus Senhores!
Caros
Companheiros do Bloco Democrático!
Respeitáveis
Convidados a este evento!
A
situação nacional exige de todos nós uma séria reflexão, para, assim, sermos capazes
de intervir e contribuir para a definição de um rumo melhor para o país.
Todos
os dias vemo-nos confrontados com novos e cada vez mais difíceis desafios, uns fruto
da conjuntura meramente interna, e outros como resultado da situação
internacional.
Internamente,
é visível o modo como se pretende obstruir todos os canais por onde deve
circular a “seiva” da democracia:
i.
Acentua-se a
mordaça sobre os órgãos de comunicação social do Estado, transformando-os em
meros instrumentos de desinformação e de propaganda do partido no poder.
ii.
Já se controlam
praticamente os principais órgãos de comunicação social alternativos, pela sua
aquisição por grupos económicos umbilicalmente ligados ao poder. Porém, a
estratégia de asfixiamento iniciou com o esvaziamento das fontes de
financiamento, retirando-lhes, paulatinamente, a publicidade. Tornou-se, assim,
mais fácil, o assalto final.
iii.
Sob a aparência
de uma maior abertura ao sector privado, tem-se acelerado o processo de
desenvolvimento de novos grupos empresariais nas várias componentes da área da comunicação
social, tais como rádio, jornais, televisão, revistas, numa clara estratégia
para o controlo total do espaço mediático, colocando, inclusive, sob sua
dependência os jornalistas mais destacadas do sector. Está, assim, pois,
gravemente ferido um dos meios essenciais para o exercício de uma informação
plural e livre. Apesar de consagrado na lei, o direito de antena não é
respeitado.
iv.
Multiplica-se a
criação de organizações da sociedade civil de inspiração governamental, (disfarçadamente
do partido no poder), para quem se afectam discricionariamente volumosos
recursos que lhes permitem depois surgir com a imagem de “benfeitores”, indo em
socorro dos segmentos mais frágeis e débeis da nossa sociedade. Porém, ficam à
margem dos apoios públicos organizações da sociedade civil descomprometidas,
muitas delas pioneiras no associativismo nacional
v.
Erguem-se
múltiplos obstáculos à acção das formações partidárias da oposição, estigmatizando-as
como se de grupos subversivos e antipatrióticos se tratassem.
vi.
Concentra-se a
riqueza nacional nas mãos dos fiéis ao regime, tornando-os assim sustentáculos do
regime.
vii.
Assiste-se a uma clara instrumentalização das
instituições do Estado, ao nível da Administração, da Justiça, dos órgãos de
Defesa e de Segurança.
Tudo
isto potencia a conflitualidade social que é bem presente e visível; uma
conflitualidade ainda estimulada por muitas outras carências de que a nossa
sociedade enferma: a persistência de elevados níveis de desemprego, a
precariedade da saúde e do trabalho, o aumento da carestia de vida, as dificuldades
no acesso à água potável, aos bens essenciais, as enormes e crescentes desigualdades
sociais.
O mau
estado da saúde tem gerado grande mal-estar entre os cidadãos. São enormes os
índices de mortalidade infantil e materno-infantil, se comparados até com
países do nosso continente e com menos recursos do que nós. Morre-se muito,
fruto de endemias que deveriam estar controladas e dominadas.
A
educação também enferma de males sem cura imediata, mesmo que se esteja a criar
a ilusão de que estamos a crescer nessa área.
Temos
que tomar consciência de que com o tipo de educação que hoje possuímos, nunca
seremos competitivos, porque ainda não estamos a formar os quadros de que
necessitamos, quer quantitativa, quer qualitativamente.
O
saneamento básico, a energia eléctrica, a flagrante carência de água, a
desordem no domínio da habitação, a insegurança nos bairros, são motivo
bastante para o desespero das populações.
Não
é possível, também, negar nem disfarçar a repressão policial e judicial aos
movimentos sociais. Fica, assim, desmascarada a verdadeira cultura política hoje
prevalecente: a criminalização da pobreza.
Em
Angola, o Estado de Direito Democrático é, pois, ilusório. Uma ilusão que se
acentua com o processo de concentração do poder nas mãos de um só homem, a quem
verdadeiramente se subordinam os diversos poderes.
Minhas
Senhoras e meus Senhores!
Quem
tem dúvidas sobre o esquema tentacular de corrupção que foi intencionalmente
montado e instituído? Quem não vê quem são os seus principais beneficiários? Quem
também não percebe a identidade das suas vítimas?
À
vista desarmada, percebe-se o processo de enriquecimento ilícito e a falácia da
aplicação da Lei da Probidade Pública. Este instrumento jurídico,
apressadamente elaborado e aprovado, tem-se mostrado, de facto, um embuste.
Afinal, não passa de um engenhoso artifício para lançar poeira aos olhos dos
incautos, dos menos prevenidos, pois só atinge quem caia em desgraça perante os
principais detentores do poder.
Minhas
Senhoras e meus Senhores!
Ilustres
Convidados!
Caros
Companheiros!
A
nossa Juventude tem manifestado de um modo vigoroso o seu desencanto pelo
actual estado de coisas. Ela tem sido obrigada a exprimir o seu sentimento nas
ruas, num crescendo de manifestações públicas. Alguns desses jovens começam
mesmo a conhecer a condição de presos políticos, uma figura que deveria ser
banida num país que assumiu publicamente o desígnio de construir uma
democracia.
Se
antes era visível o receio de falar e exprimir livremente ideias, hoje já se
recorre às cadeias para silenciar protestos legítimos.
Ninguém
tem já dúvidas sobre os rumos que o nosso país está seguir. A continuar assim,
poderão mesmo emergir situações menos agradáveis e mais gravosas. É isso o que o
Bloco Democrático constata. É isso também o que o Bloco Democrático, com a sua
acção, quer prevenir.
Que
fique bem claro, nós somos aliados naturais e incondicionais daqueles que se
tornaram nas principais vítimas da actual má governação.
Mas
que também não haja dúvidas: Nós não somos adeptos da “arruaça”, somos, sim,
respeitadores do direito à manifestação, consagrado na Lei Fundamental.
O
Bloco Democrático não é como os que se abespinham quando a oposição ou a
sociedade civil recorrem ao seu direito legítimo de se manifestar. Esses, os
que ficam inquietos com as manifestações dos outros, e, de imediato, convocam
contra-manifestações com intenções provocatórias são, na realidade, máscaras da
democracia. Por isso, provocam a dita “arruaça” e programam-na com a intenção
de desacreditar aqueles que são os principais agentes da mudança.
Quero,
pois, particularmente, exprimir a minha admiração e gratidão à nova geração de
jovens angolanos que, de um modo corajoso, saem à rua para dizer publicamente
aquilo que lhes vai na alma. Eles mostram-se já os continuadores das anteriores
gerações de jovens angolanos que tomarem em mãos a responsabilidade de
protagonizar o processo de libertação nacional e a defesa da integridade da
pátria.
De
modo algum partilhamos a opinião de que a actual conflitualidade se resolve apenas
com o recurso a um dito diálogo, um diálogo espartilhado e governamentalizado, tal
como recentemente decidiu o Presidente da República, no seu discurso sobre “O
estado da Nação”.
É
bom que se saiba que nós não queremos ser uma fotocópia disfarçada da Coreia do
Norte, nem da Síria. Nós batemo-nos, sim, pela democracia, e não por uma
“democratura”. Ou seja, um regime político com aparência democrática em alguns
domínios, mas com uma essência e práticas típicas das ditaduras.
As
reivindicações que hoje se fazem são essencialmente políticas e têm a ver com o
desenvolvimento da democracia. A democracia tem regras e princípios essenciais,
que não se confundem com a leitura que está agora a ser feita, por questões de “ilusionismo
político”.
Os
jovens que hoje corajosamente se manifestam nas ruas exprimem também o sentimento
dos outros segmentos sociais. Eles concentram em si as frustrações dos adultos,
das mulheres marginalizadas, dos desmobilizados esquecidos, dos desvalidos, daqueles
que não encontram emprego por causa das políticas económicas erradas, enfim, e afinal,
as vítimas de todos os tipos de discriminação e exclusão.
Os
jovens que corajosamente se manifestam nas ruas são porta-bandeira dos
esquecidos, dos que são maltratados, física, económica, política e socialmente.
Por isso, merecem o nosso apoio e o nosso carinho. Eles falam por nós, mesmo
que, por vezes, eventualmente não usem as melhores expressões.
Com
o tempo e com uma prática reiterada de protesto público, todos nós aprenderemos
a usar devidamente esse e outros instrumentos de contestação democrática. O que
é agora importante é que eles são porta-vozes da mudança.
Queremos
uma nova política alicerçada na democracia participativa e no Estado Social de
Direito.
Para
nós a mudança será fruto da denúncia e da tomada de consciência dos nossos
direitos.
Temos,
sim, a rua para manifestarmos os nossos sentimentos, porque os restantes canais
estão obstruídos ou limitados. Mas vamos ter a oportunidade de usar as urnas
como o instrumento privilegiado para a alteração deste estado de coisas.
Nós
somos um partido que luta por valores democráticos. Somos amantes da Liberdade,
da Modernidade e da Cidadania. Queremos que o Estado esteja ao serviço da
Sociedade. Não nos basta a independência política formal, somos por uma
verdadeira libertação social.
Minhas
Senhoras e meus Senhores!
Prezados
Convidados!
Caros
Companheiros!
Vem
aí o processo eleitoral. Estamos a partir numa condição de inferioridade, mas
temos de ter a coragem de tudo fazer para alterar, para mudar.
Um
dos nossos instrumentos de luta para a mudança passa pela necessidade de haver
verdade eleitoral. Isso exige vigilância, perseverança, inteligência, coragem.
Temos que nos socorrer de todos os meios democráticos ao nosso dispor.
Nós,
o Bloco Democrático, não somos um conjunto de aventureiros. Estamos na política
para servir os cidadãos.
Temos,
por isso, linhas programáticas claras, que passo a resumir:
· Participar na edificação de um Estado Social de Direito
alicerçado num Estado unitário com equilíbrios regionais, incluindo a autonomia
e a prevalência do poder civil sobre o poder militar.
· A separação efectiva dos poderes, pondo termo à actual
situação de subordinação de poderes, inclusive, alguns até de legitimidade
directa.
· O regresso à eleição presidencial directa dos
cidadãos, ao semi-presidencialismo e à cooperação estreita entre a sociedade
civil e os órgãos do poder de Estado na base da democracia participativa.
· Um maior equilíbrio entre os centros de poder,
deixando para trás a actual concentração do poder nas mãos de um único homem.
· Pugnar pelo respeito dos direitos fundamentais dos
cidadãos, também pelas especificidades regionais, a correcção dos
desequilíbrios na distribuição da riqueza e dos rendimentos.
· A criação de oportunidades ligadas a medidas activas
de não discriminação apontadas para o combate à pobreza e pelo desenvolvimento
do sector agro-pecuário envolvendo as comunidades rurais, a agricultura
familiar, devido ao seu papel fundamental no combate à fome e na garantia da segurança
alimentar em todo o país.
· Realizar plenamente o Estado Social de Direito,
através da Família, Escola, Empresa e da Comunidade.
· Implementar processos cada vez mais transparentes na
Administração Pública, na Economia e na Justiça, é uma das nossas bandeiras, para
que sejamos credíveis quer a nível interno, quer a nível internacional.
· Lutar para a implementação de políticas capazes de
gerar um crescimento virtuoso da nossa economia e que sejam geradoras de
emprego, como forma de aumentarmos o nosso potencial interno e de dar
satisfação a uma das necessidades mais prementes da nossa população,
especialmente os mais jovens, promovendo uma política progressiva de bons
salários.
· Combater seriamente a corrupção, eliminando os
factores que a geram. Na nossa perspectiva, no combate à corrupção de baixa
intensidade devem ser privilegiados os instrumentos de dissuasão como, por
exemplo, as regras administrativas; no combate à corrupção de alta intensidade dever-se-ão
conjugar os mecanismos de transparência governativa com a investigação e a
acção judicial.
· Reverter o actual estado de dependência dos recursos
provenientes do petróleo e dos diamantes, investindo seriamente nos sectores de
actividades, manufactureira, no comércio, nos transportes e nos serviços, dando
especial destaque para a agricultura familiar.
Minhas
Senhoras e meus Senhores!
O
Sector Social é de primordial importância para o Bloco Democrático, pelo seu
carácter altamente reprodutivo e pelo impacto que tem no bem-estar das
populações.
Para
o efeito, atribuímos uma elevada cotação à Educação, à Agricultura e à Saúde para
quem preconizamos a implementação de acções integradas com grande incidência na
medicina preventiva a par da curativa. Neste campo, somos pela constituição de
parcerias público-privadas na gestão destes sectores para um melhor
aproveitamento dos recursos, conseguindo-se, assim, uma mais rápida e mais
eficaz elevação da qualidade da educação, do fornecimento de água potável e da
saúde.
Queremos,
igualmente, dar uma maior dignidade aos diversos ramos do ensino, quer no
ensino público, quer no privado, para que as nossas crianças, os jovens e os
adultos tenham uma formação qualitativamente melhor.
Dedicaremos
uma maior atenção à terceira idade, aos portadores de deficiência, às vítimas
dos diversos conflitos, aos desmobilizados, organizando um sistema de segurança
social universal integrado, gerido por uma Autoridade Administrativa Autónoma,
integrada por representantes do Estado, das associações patronais e dos
sindicatos.
Somos
por uma efectiva igualdade do género, por via da participação activa de todos e
a todos os níveis.
É
por tudo isso que estamos aqui congregados e unidos com o grande intenção de
mudar: mudar nos objectivos, mudar nos métodos de acção, mudar na cultura
política, enfim, mudar para melhor. Queremos mudança para criar uma nova
esperança para todo o nosso povo.
Muito
Obrigado!